Inovação Sustentável Empresarial em meio a uma crise de saúde global: O caso Boaonda
Com a pandemia originada pelo COVID-19, criando uma crise sem precedentes na memória viva, não há um elemento de nossas vidas que tenha permanecido inalterado. E isto é especialmente verdade para as empresas, tanto faz se você possui um negócio próprio, ou se depende de um salário mensal. A pandemia global de 2020/2021, porém, não é a primeira crise com a qual as empresas modernas têm que lidar neste mundo globalizado hodierno. Tomando, por exemplo a crise financeira de 2008, acrescentando a crise ambiental (clima, poluição e biodiversidade), e o crescimento da desigualdade social global. A globalização iniciada nos anos ’70 se mostra como um fator exponencial na realidade atual, uma realidade onde a interconexão pode expandir uma doença muito rapidamente pelo planeta. Sua maior força (o movimento fluido de capital, empregos, pessoas e manufatura) também comprovou ser o maior mal para o mundo: o vírus se espalhou rapidamente por um mundo hiper-conectado.
John F Kennedy afirmou em tempos que a palavra chinesa para crise implica perigo e oportunidade de significado. Embora em termos de etimologia ele possa estar um pouco equivocado, o sentimento é bem verdadeiro: uma crise sempre apresenta uma chance. Isto é particularmente verdadeiro, onde enfrentamos a tarefa de proteger a vida de centenas de milhares de pessoas, a saúde de milhões e a subsistência de bilhões de pessoas. Mas enquanto lutamos, devemos aproveitar a oportunidade também para criar uma sociedade nova, mais resistente, saudável e igualitária, que viva em equilíbrio com a natureza.
Mais do que nunca, precisamos de empreendedorismo sustentável e inovação. O coronavírus provou mais uma vez que a sustentabilidade é o único caminho a seguir. O empreendedorismo sustentável tem a geração de lucro como um de seus três pilares, mas vai muito mais longe do que isso. Ele oferece valor agregado social e soluções de longo prazo que beneficiam o planeta e a sociedade e trazem mudanças positivas.
Um passo importante é produzir e/ou oferecer produtos e serviços sustentáveis, tais como calçados sustentáveis. O produtor brasileiro de calçados Boaonda é um excelente exemplo de como, em meio a uma crise, uma empresa pode se comprometer plenamente com a sustentabilidade e a inovação para garantir seu futuro, reduzir seu impacto negativo sobre o meio ambiente, criar um melhor ambiente de trabalho para todos os seus funcionários e estar um passo à frente da concorrência quando esta crise finalmente chegar ao fim.
Boaonda é um fabricante de calçados plásticos que utiliza diferentes tipos de plástico como matéria-prima. O plástico necessário para a produção de seus calçados, era comprado como matéria-prima, e apenas parte dele era usada para produzir os calçados. Os resíduos eram descartados sem prestar mais atenção aos aspectos ambientais. Entretanto, no início da pandemia do COVID-19, Boaonda percebeu que esta não era a maneira correta de abordar o processo e começou a buscar a especialização nesta área para trabalhar de forma mais eficiente, mais econômica e mais sustentável.
Hoje em dia, Boaonda não gera nenhum resíduo plástico, pois todos as sobras geradas no processo de produção são coletadas, microprocessados e transformadas em matéria-prima para um novo modelo de calçado. Desta forma, os recursos financeiros são economizados/gerados de três maneiras. Na compra (menos matéria-prima é necessária para a produção), nos custos de descarte (muito menos resíduos são gerados), e na venda da linha de calçados sustentáveis chamada Hope.
As mudanças não se limitam ao acima descrito. Como mencionado anteriormente, a sustentabilidade empresarial consiste em três pilares: social, econômico e ambiental. Em termos de meio ambiente, Boaonda já faz a diferença reciclando e reutilizando seus resíduos. Além disso, Boaonda firmou um contrato para consumir somente eletricidade de fontes sustentáveis a partir de fevereiro de 2021 e estabeleceu uma política de separação de resíduos dentro da empresa. Muitos progressos também tem sido feito na área social. A economia financeira e os ganhos gerados pelo projeto de sustentabilidade foram investidos em climatizadores sustentáveis na área de produção, que podem baixar a temperatura para os funcionários em até 12 graus, melhorando muito o bem-estar dos trabalhadores da fábrica. Um comitê de sustentabilidade também foi criado, e caixas de sugestões foram instaladas onde os empregados podem dar sua contribuição para que Boaonda possa agir de acordo com as idéias dadas por seus empregados. Quanto aos números; 95% de todos os resíduos de fabricação são reutilizados ou reciclados no momento, um novo calçado Boaonda contém pelo menos 60% de material reciclado e é 100% reciclável em um novo Boaonda, as emissões de CO2 foram drasticamente reduzidas, e as emissões de CO2 que existem são compensadas com o plantio de árvores. Tudo isso aconteceu sem grandes investimentos e no período de alguns meses no meio de uma pandemia, com a ajuda da TDL Brasil.
A atitude da Boaonda em implementar um projeto de sustentabilidade, mostra que a crise foi convertida em uma oportunidade para a continuidade do seu negócio, impactando não apenas financeiramente, mas também na vida dos seus empregados e no consumo pelo planeta positivamente. O esforço que Boaonda fez durante estes tempos de pandemia global garante que a empresa sairá da situação mais forte do que nunca, e muito melhor preparada para lidar com qualquer crise que venha a ocorrer. E isto não foi apenas por causa das vantagens para a marca e seus clientes, mas também simplesmente por necessidade. Pensar sempre pelo menos um passo à frente para apresentar ideias inovadoras não será um luxo, mas uma necessidade no futuro.
A pandemia dá um impulso à sustentabilidade. Gestões inovadoras estão sendo criadas e tecnologias estão sendo aprendidas a um ritmo rápido pelos consumidores (tanto nacionais quanto internacionais) e sua mudança de comportamento exige mais transparência. Não tenha dúvidas de que a sustentabilidade é essencial para mantença do seu negócio. Sem sustentabilidade as empresas não sobreviverão, este é o único caminho a seguir!
Por Ties de Leijer | Consultor de Negócios Sustentáveis na TDL Brasil